E também tem o seguinte: continuo me recusando a utilizar o novo acordo ortográfico por uma série de motivos:
- Não vi nele nada de realmente inteligente. A língua deve ser inteligente - ou seja, ser instrumentalizada para expressar idéias complexas e idéias simples com a mesma clareza e eficiência. Já em brasileiro temos a perda de importantes elementos que nos facilitariam, que Portugal mantém como por exemplo dizer: Onde estão os livros? Ele mos deu. Esse mos, que aos brasucas soa estranho, torna a mensagem da frase inequívoca. Mas, claro, já não o temos há séculos, deixemos assim. Não é o caso com a palavra tranqüilo. Com a perda do trema, aqueles que não conhecem a palavra passam a falar como os hispano-falantes - não exatamente um ganho para a língua, como é óbvio. A língua escrita tem que facilitar o jogo do entendimento, e não obrigar as pessoas a conhecerem mais palavras de cor. Qualquer um deveria ser capaz de ler, pronunciar e compreender corretamente. Há outros exemplos, como eliminar o hífen das palavras compostas por prefixos em latim e grego, de maneira que as pessoas em pouco tempo vão ser incapazes de constituir significados e/ou criar neologismos interessantes.
- Não quero impor meu sotaque a ninguém, nem quero que me façam o mesmo. Assim, idéia não é a mesma coisa que ideia, nem rima com meia. Tanto quanto os "cs" e os "ps" mudos de Portugual servem para abrir-lhes a vogal que vem antes, caso contrário a pronunciariam de forma bem fechada. Para que obrigá-los a se aproximar do sotaque brasileiro?
- Sem contar que eu, usuária full-time, não fui consultada!
Mas claro, há um para quê. É a submissão de valores culturais ao valor do mercado - uma das desculpas era a facilitação nas traduções de documentos e livros. Bem fraquinha, por sinal, mas acima de tudo flagrantemente nefasta, uma vez que o português que fala um tuga, um brasuca ou um mwangolé é outra língua mesmo que a escrita seja comum, por se tratarem de povos diferentes, que organizam a língua diferentemente em suas cabeças. E não adianta nos comparar com os hispano-falantes porque, francamente, o que temos em comum com eles? Por que não podemos ficar com o que temos em comum conosco próprios - brasucas com brasucas, tugas com tugas, etc.?
A mim, resta-me entender este movimento como mais um dentre os milhares que tratam, na verdade, de aniquilar-nos a cultura, quase sempre em nome daquilo que não nos forma como pessoa, pois, pessoa é o que, através dessas imposições, vamos deixando cada vez mais de ser.
Não se pode mais nem escrever em paz!
Feliz 2012!
Olá Flávia, nós portugueses também não estamos muito de acordo com esse acordo, mas tal como você diz os interesses económicos é que sobressaem sobre as nossas culturas e infelizmente, pelo menos falo por Portugal, cada vez menos o povo tem poder de decisão... Deixe-me só corrigir uma coisa que vc disse acima: "Ele mos deu". Nós não dizemos assim, de acordo com a pergunta nós poderíamos responder "Ele me deu" ou "Ele deu-me os livros".
ResponderExcluirAqui em Portugal, a maior parte das pessoas continua falando (e escrevendo) da mesma maneira porque sinceramente não dá para mudar o nosso sotaque, é algo que está enraizado e dificilmente iremos perder isso. Acho importante é que nós enquanto culturas diferentes (e iguais também) nos continuemos a respeitar e a ser povos irmãos como temos sido até agora. Bem haja e bom ano!
E você sabia que os nomes das pessoas que já morreram também devem ser corrigidos nos trabalhos acadêmicos? Tipo, Villa-Lobos tem que ser escrito nos mestrados e doutorados ( acredito que em publicações literárias comuns também) Vila Lobos? Fiquei pasma quando eu vi. As famílias ficam totalmente descaracterizadas, já que por exemplo "Cortez" com z é uma família e com s é outra, e segundo esta norma, após a morte do cidadão vira tudo a mesma coisa. É totalmente absurdo.
ResponderExcluirInteiramente de acordo, Flavia. Em outras palavras, de acordo que esse acordo é uma grande bobagem.
ResponderExcluirDe fato (que em Portugal se escreveria facto) acho a tal reforma ridícula. Só faltou inventarem de suprimir o "p" de "elipse". Os gregos antigos me ensinaram: "Não serás elíptico com o "p" em elipse!"
(Elipse sem "p" seria quase o nome daquela musiquinha do gás... (Beethoven que me perdoe a piada))
Ingleses a americanos jamais fizeram um acordo desse tipo; na terra da Rainha se escreve "normalisation", enquanto na do Tio Sam se escreve "normalization" (sem falar de palavras com usos totalmente distintos nos dois países, como "lift" e "elevator"). E isso nunca causou nenhum problema, e nunca perturbou nenhum interesse econômico.
Minha teoria é simples: a inteligência da "inteligentsia acadêmica" de um país é inversamente proporcional ao número de reformas ortográficas realizadas nesse país sob os auspícios da dita cuja.
Feliz Ano Novo. Recheado de boas IDÉIAS.